Ave!
Uá-Uá-Uáááá! Esta é, quase garantidamente, a forma
mais estranha de começar um artigo num blogue. E no entanto, se eu vos disser
para associarem a esta onomatopeia, em pano de fundo, um filme western... de
repente tudo faz sentido.
Comprei recentemente o The Very Best Of Ennio
Morricone, um dos grandes vultos para os apreciadores da "música do
cinema". Brilhante compositor italiano, o maestro é um dos poucos artistas
cujas bandas sonoras são imediatamente identificáveis por qualquer pessoa,
ficando somente atrás do inigualável John Williams.
O "Uá-Uá-Uáááá" por onde começámos, na
realidade responde como tema principal do filme "O Bom, o Mau, e o
Vilão" (Sergio Leone, 1966), e tem lugar garantido entre os 10 temas mais
icónicos do cinema. É extraordinário apurar os sentidos para perceber como o
maestro soube, de forma engenhosa, moldar música e som para produzir algo tão
único. Esta arte é igualmente reconhecível em alguns dos seus outros temas,
como o caso de "Por Um Punhado de Dólares", onde se podem escutar
inclusive estampidos de chicote.
Mas a obra de Morricone é imensa, e está longe de se
cingir aos westerns. Um dos seus trabalhos mais nobres será a banda sonora de
"A Missão", de onde o delicioso oboé de Gabriel continua a inspirar
gerações, e cujo tema central conferiu ainda maior expressividade à assombrosa
paisagem que acolhe a história.
O álbum, tal como a carreira do maestro, não se esgota
no cinema. No entanto, é inegável que foi o seu percurso na 7ª Arte que projectou
Morricone para o reconhecimento mundial. Foi em 2016 que ganhou o seu primeiro
Oscar (exceptuando um Oscar honorário), resultante da colaboração com Quentin
Tarantino em "Os Oito Odiados", mas foi em 1968, para "Aconteceu
no Oeste", que compôs, porventura, a sua obra-prima. O tema principal do
filme é de uma beleza somente equiparável à de Claudia Cardinale.
Por uma obra extensa, variada, e maravilhosa,
resta-nos olhar com ternura para Ennio Morricone, e sussurrar-lhe: grazie, maestro.
Post scriptum
Este artigo é dedicado à Xana e à Xina, por saberem estalar
o chicote que me obriga a escrever. E logo hoje, que Ennio Morricone completa
88 anos. :)
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