Quando Péricles, Aspásia,
Anaxágoras e Sócrates assistiram juntos a uma peça de Eurípedes no Teatro de
Dioniso, Atenas pôde testemunhar ao vivo o zénite e a unidade da vida grega –
governação, arte, ciência, filosofia, literatura, religião, moral vivendo, não
carreiras separadas como nas páginas dos livros, mas entrelaçadas no tecido
multicolor da história de uma nação.
Ave!
Há livros que nos surgem na altura certa da vida. Breve História da Civilização foi um
destes casos. Ter nas mãos um livro que consegue percorrer séculos de cultura,
política, filosofia, religião, arte, e abordar todos estes temas com a
capacidade de transmitir deslumbramento ao leitor, é um feito digno de se lhe
tirar o chapéu.
O livro está longe de ser perfeito. Tal como é
referido no preâmbulo, surge da compilação de uma série de notas reunidas pelo
autor, Will Durant, descobertas alguns 20 anos após a sua morte. Nota-se que é
um trabalho que carece de uma edição mais coesa. Desde logo, exceptuando alguns
breves capítulos sobre Confúcio, parece que toda a História da Civilização se
resume à Europa e ao Mediterrâneo.
Não obstante, é uma viagem maravilhosa por mais de 4000
anos de cultura e antropologia. Durant relembra-nos a emergência das grandes
civilizações que delinearam o que é hoje o "mundo ocidental", com
particular destaque, como não podia deixar de ser, para a Grécia. Aliás, a
Grécia clássica constitui provavelmente o melhor de todo o livro. É notória a
paixão, e o respeito, que o autor tem por todas as figuras dessa época. Os
filósofos, os estadistas, os estrategas, os poetas. E ao longo de todos os
capítulos que compõem o livro, Durant volta repetidas vezes à ideia fabulosa de
Platão, cujo sonho era ver uma nação governada por filósofos. Durant evoca os
grandes dramaturgos gregos, quase aludindo implicitamente à ideia de que tudo o
que é relevante na escrita dos Homens pode ser encontrado entre o legado da
Grécia clássica. Todas as ideias, todos os conceitos, todos os pensamentos,
podem ser encontrados algures em Ésquilo, Sófocles, Platão, Aristóteles, ou
Sólon. De certa forma, pese embora o exagero, tudo o que de nobre a alma Humana
pode conceber, pode ser encontrado na Grécia clássica. Pessoalmente, tendo a
concordar com Durant.
E esta é uma das questões que tornam a leitura do
livro tão apaixonante. Will Durant não se limita a relatar factos da História
para falar da Civilização. Vai buscar as grandes referências literárias e
artísticas, enquadrando-as de forma a não restarem dúvidas quanto ao papel da
expressão cultural enquanto motor da construção da Civilização. É brilhante.
Igualmente interessante é o pormenor do autor
partilhar as suas opiniões ao longo dos textos. Não se limita a relatar,
preocupa-se em dar a sua leitura dos acontecimentos, e em fazer extrapolações
com outras referências.
O protagonismo dado à Grécia é dividido com Roma, esse
colosso fundador daquilo que ainda hoje a Europa é, sem descuidar o papel da
religião nas grandes rupturas que moldaram a Europa e o seu desenvolvimento.
Percorremos inúmeras figuras históricas, das quais tínhamos uma vaga noção, mas
não sabíamos exactamente o porquê de serem importantes para a História. E não
falta o Renascimento, e a sua "culpa" pelo surgimento da Europa
moderna. Só lamentamos quando o livro acaba em Shakespeare, mas infelizmente o
autor não teve tempo para tratar as figuras que se lhe seguiram.
Lao-Tsé, Ozymandias, Lourenço de Médicis, Carlos V, Sólon,
Augusto, Péricles, Da Vinci, Alexandre, Espártaco, Cipião, César, Agripa,
Maquiavel, César Bórgia, Aristóteles, Péricles. A História está cheia de gente
fascinante, e o nosso tempo nesta vida é demasiado escasso para conhecer todos
os seus feitos.
Breve História da Civilização é daqueles livros cuja leitura recomendo sem reservas. Qualquer pessoa,
independentemente das suas preferências literárias, fica embevecida com esta
viagem. E pensar que só o comprei porque um dia, ao passar num supermercado
(nem sequer foi numa livraria!), olhei para o lado e dei por mim a cogitar: “Hmmm,
interessante, livros com 40% de desconto…”
Addendum
Hino a Áton